Embora a empresa e o seu ambiente externo não se confundam é evidente a influência que um sobre o outro exerce.
Também, segundo os princípios contábeis e jurídicos
a pessoa do empreendedor com a do empreendimento não se mescla.
Tais premissas são dignas de apreciação como orientações
para os critérios de análise das situações espelhadas
nas demonstrações contábeis.
De forma aristotélica é fácil concluir que a empresa é
algo “uno” e como tal deve ser tratada.
Isso não exclui a necessidade de observar as correlações
úteis que se tenham operado no capital, mas, impede de tomá-las
em caráter absoluto.
Isso equivale a dizer que se deve estar atento às transformações
ocorridas no mercado, às evoluções científicas,
a política creditícia nacional e internacional etc.
Aceita tal conclusão tem-se um ponto de partida para uma metodologia
analítica contábil que sinaliza para um objetivo definido.
Como o corpo de cada pessoa é para os médicos um universo característico,
para os contadores o capital de cada empresa é igualmente algo peculiar.
Isso sugere cuidado em relação aos excessos praticados no campo
da comparação de balanços de empresas distintas, ainda
que do mesmo ramo e situadas no mesmo mercado.
As análises “conjunturais” ou de “atividades”
são preocupações da ciência econômica, não
da ciência contábil.
Cada ramo da ciência tem sua própria metodologia ainda que tenham
o mesmo objeto de exame (casos da Física e da Química, da Economia
e da Contabilidade etc.).
Para efeitos econômicos é interesse conhecer, por exemplo, o que
ocorre no ramo de construção civil, quer em uma região,
quer nacional, quer internacional.
Para fins contábeis, todavia, no caso das empresas edilícias,
o que se objetivará sempre será conhecer como se comporta o capital
da Nuno Mendes Edificações.
Essa a razão pela qual falha contabilmente falece a “comparação”
de uma com outras empresas do mesmo ramo por que não têm condição
de oferecer conclusões de caráter absoluto.
O relevante fracasso da aplicação nos Estados Unidos de raciocínio
econômico em matéria de análise contábil de empresa
sufocou, na segunda metade do século XX, a tendência iniciada nos
fins do século XIX de obter conclusões sobre comportamento de
unidade empresarial a partir da comparação com o todo de um ramo
de negócios.
Antes que os estadunidenses se convencessem do insucesso do “método
comparativo” em atividades já os doutrinadores italianos condenavam
o regime comparativo aludido.
Já nos fins da primeira metade do século XX de forma enfática
o grande e festejado professor Gino Zappa, em sua obra “O rédito
da Empresa”, advertiu sobre a falência da aplicação
de critérios econômicos no campo contábil.
Enfaticamente argumentou o mestre que o patrimônio individual de cada
negócio está contido em um ambiente interno que é o da
empresa e nesta existe um próprio exercício de vontade do qual
nascem as decisões que movimentam a riqueza.
A empresa tem por continente externo um variado conjunto de forças de
influência ditadas pela: sociedade, mercado, inovações tecnológicas,
natureza, sistema político etc. e sobre o qual, comumente, não
tem poder de alterar.
O entorno referido é determinante para todo um ramo de atividade, mas,
é aquele interno que dita o peculiar.
Empresas situadas no mesmo bairro, com um mesmo ramo, tendem a ter resultados
diferentes em função da capacidade dirigente, competência
do pessoal, imagem, tradição, atendimento ao cliente, qualidade
do imobilizado, processos de produção etc.
Existem ramos lucrativos que podem estar em fase ascendente e a empresa a ele
pertencente em declínio.
Há, também, o oposto, ou seja, o ramo pode não estar bem
e uma determinada empresa do mesmo ter ótimos resultados.
Portanto, os quocientes “padrões”, tão acreditados
anteriormente, encontram-se hoje contestados diante do insucesso do critério.
Autor: Antônio Lopes de Sá
Contato: lopessa.bhz@terra.com.br
Doutor em Letras, honoris causa, pela Samuel Benjamin Thomas University, de Londres, Inglaterra, 1999 Doutor em Ciências Contábeis pela Faculdade Nacional de Ciências Econômicas da Universidade do Brasil, Rio de Janeiro, 1964. Administrador, Contador e Economista, Consultor, Professor, Cientista e Escritor. Vice Presidente da Academia Nacional de Economia, Prêmio Internacional de Literatura Cientifica, autor de 176 livros e mais de 13.000 artigos editados internacionalmente.