08/12/06 - Estratégias para uma administração eficiente dos recursos investidos no capital de giro de uma empresa

Autores:

RENATA GAMA E GUIMARO MOURA,

CRISTIANE JURADO ALVES e

PÂMELA ANDRESSA GOMES TOLENTINO FERNANDES

Resumo

O presente artigo apresenta um relato sobre a análise dinâmica da administração do capital de giro em uma empresa e as estratégias de administração de caixa da empresa. Apresenta os fundamentos teóricos dos aspectos envolvidos e as variáveis que devem ser consideradas pelos administradores financeiros, na definição e execução de suas estratégias financeiras de curto prazo. Com foco na manutenção da liquidez, são analisadas as implicações das diversas estratégias de investimento de capital no giro, bem como apresenta parâmetros que possibilitam ao administrador financeiro, uma tomada de decisão técnica correta que contribua positivamente para a valorização da empresa. Visando proporcionar uma contribuição ao trabalho, serão comentados as estratégias e recursos que deveriam ser utilizados pela administração da empresa.

1. Introdução

As empresas são organizações sociais que utilizam recursos administrativos para atingir seus objetivos, portanto é necessário um sistema de gestão que envolva o controle financeiro e econômico.

O controle financeiro se dá através da gestão do capital de giro, o qual precisa de acompanhamento permanente, pois está continuamente sofrendo o impacto das diversas mudanças enfrentadas pelas empresas.

A gestão financeira tem por objetivo geral, direcionar a empresa para que esta obtenha lucro dentro de um nível aceitável de risco e que esse lucro se transforme rapidamente em dinheiro.

Portanto, os recursos financeiros das empresas, consistem em uma das áreas mais importantes para a sobrevivência das organizações, e nesta área destaca-se a gestão do capital de giro que se dedica principalmente aos recursos de curto prazo que influem diretamente na liquidez e rentabilidade da empresa, motivo este, que justifica o estudo que será abordado no presente trabalho.

2. Capital de Giro

Conforme Ross, et al (2000), a literatura na área da administração financeira enuncia que o objetivo principal da empresa, por conseguinte, de seus administradores é maximizar a riqueza dos acionistas, maximizando o valor da empresa.

As decisões de investimento são de vital importância pois, produzem efeitos de risco nos resultados, para manter o seu equilíbrio financeiro devem adequar a maturidade dos passivos à capacidade de geração de caixa dos ativos.

As decisões de investimento em capital de giro devem também promover a atratividade econômica da empresa, favorecendo sua solvência, sua continuidade e valorização. A definição da política de investimento em capital de giro da empresa, portanto, deve considerar qual a quantidade de capital de giro é necessária para o adequado funcionamento da empresa, ou seja, qual é a melhor relação entre os ativos circulantes e os ativos totais.

2.1 Conceito de Capital de Giro

Para Assaf e Silva (1997), “capital de giro refere-se aos recursos correntes da empresa, geralmente identificados como aqueles capazes de serem convertidos em caixa no prazo máximo de um ano”, ou seja, são recursos exigidos para financiar o ciclo operacional da empresa.

Estes recursos são destinados para compra de mercadorias, reposição de estoques, financiamentos das vendas a prazo, despesas administrativas, etc...; que corresponde a parte do capital utilizado para financiamento dos ativos circulantes da empresa.

Para Assaf e Silva (1997),

“Uma boa administração do capital de giro envolve imprimir alta rotação (giro) ao circulante, reduzindo seu ciclo operacional, tornando mais dinâmico seu fluxo de operações, de modo a fazer frente aos compromissos com as fontes de financiamento, reduzindo o ciclo financeiro”.

Contudo, uma administração inadequada do capital de giro resulta normalmente em sérios problemas financeiros, contribuindo efetivamente para a formação de uma situação de insolvência para a empresa.

2.2 Composição do Capital de Giro

As contas que compõem o capital de giro são classificados no balanço, como contas de curto prazo – circulante – da empresa.

“A administração do Capital de Giro se refere à administração das contas circulantes, tanto ativos como passivos”. (Assaf e Silva, 1997; p.13).

De acordo com Gitman (1997), as contas que compõem o capital de giro são: Caixa, Títulos Negociáveis, Duplicatas a receber e Estoques.

2.2.1 Caixa

O termo caixa presente neste trabalho refere-se a ativos de liquidez imediata, ou seja, recursos monetários e saldos em contas correntes bancárias. “Caixa representa valores que podem ser utilizados a qualquer momento em pagamentos de diversas naturezas”. (Martins e Assaf, 1986; p. 298).

Segundo Gitman (1997, p. 664), “ caixa é a moeda corrente à qual todos os ativos líquidos podem ser convertidos”.

Ross et. al (1995) citam que o objetivo básico com relação a caixa é o investimento no ativo, dando continuidade normal as atividades da empresa de forma eficiente e eficaz.

2.2.2 Títulos Negociáveis

De acordo com Gitman (1997), títulos Negociáveis são instrumentos á curto prazo que podem ser facilmente convertidos em dinheiro e são muitas vezes considerados parte dos ativos líquidos da empresa (quase caixa). Os investimentos em títulos negociáveis são vantajosos para a obtenção de lucratividade adicional sobre recursos temporariamente ociosos.

2.2.3 Duplicatas a Receber

Segundo Gitman (2002, p.696), “as duplicatas a receber são o resultado da concessão de crédito de uma empresa a seus clientes, a fim de conservar os clientes atuais e atrair outros”.

É de suma importância relatar que, duplicata a receber constitui um mal para as empresas, porém um mal necessário para as empresas, para fomentar as suas vendas. (SANVINCENTE, 1997).

2.2.4 Estoques

Para Gitman (2002), os estoques representam investimentos não rentáveis, mas necessários ao processo de produção e vendas das empresas, juntamente com os investimentos em duplicatas a receber, com o objetivo de fomentar as vendas.

O controle dos estoques é de grande importância, uma vez que gera custos de manutenção e na intenção de minimiza-los, a empresa através de estratégias de vendas, poderá transferir os estques para duplicatas a receber, o que proporciona custos menores.

Os estoques podem ser insumos, produtos semi-acabados ou produtos acabados.

Segundo Assaf e Silva (1997), possuir estoques é importante para dar continuidade ao fluxo econômico contínuo.

2.3 Estratégias para administração do Capital de Giro

Segundo Gitman (1997), os recursos investidos no capital de giro, são recursos que não gerarão lucro, mas que são indispensáveis ao suporte operacional da empresa. O nível de recursos a ser investido, depende da extensão do ciclo operacional, que quanto mais extenso for, maior o nível de recursos a ser mantido como capital de giro, o que resultará em maior custo de oportunidade.

O ciclo operacional das empresas é o período que vai desde a compra da matéria-prima, até o recebimento das vendas a prazo.

As estratégias básicas a serem empregadas pelas empresas na administração do ciclo de caixa são: Girar os estoques tão rápido quanto o possível, evitando perdas nas vendas; receber antecipadamente as duplicatas a receber, sem que pressione os clientes de forma exagerada e cause perdas de vendas futuras e retardar o pagamento das duplicatas tanto quanto possível, sem prejudicar o conceito de crédito da empresa.

Como forma de minimizar a necessidade de financiamentos negociados, os administradores financeiros tentam acelerar recebimentos e retardar pagamentos com técnicas de administração de caixa.

3. A importância da administração do caixa da empresa

A conta caixa registra o movimento de dinheiro em poder da empresa, bem como cheques em mãos, recebidos e ainda não depositados. A busca do equilíbrio financeiro é o objeto maior da administração do capital de giro, a boa administração do caixa é um componente vital para a saúde dos negócios e essencial ao crescimento e a continuidade das operações da empresa.

Conforme Gitman (2002, p.664),

“Caixa e títulos negociáveis são mantidos pela empresa com o objetivo de reduzir o risco de insolvência técnica, pois representam disponibilidades que podem ser usadas tanto nas situações de saídas de caixa planejadas quanto inesperadas”.

4. Modelos utilizados para determinar o caixa da empresa

A utilização de todos os modelos apresentados a seguir poderão ser desenvolvidos em conjunto com a demonstração do fluxo de caixa, onde a apuração desse demonstrativo fornece importante informação para a empresa que deseja gerir seu disponível.

"O saldo apropriado de caixa [grifo do autor] envolve um equilíbrio entre os custos de oportunidade da manutenção de um saldo excessivo e os custos de transação decorrentes da manutenção de um saldo muito pequeno."(ROSS et al, 1995,p.554)

Gitman (1997, p.665) cita que,

"O objetivo da administração deveria ser manter níveis de saldos transacionais de caixa e de títulos negociáveis que contribuíssem para elevar o valor da empresa. Caso os níveis de caixa e de títulos negociáveis sejam muito altos, a lucratividade da empresa será menor do que se saldos ótimos fossem mantidos."

Para que o caixa seja mantido a níveis necessários de modo que não afete a liquidez e nem a lucratividade, as empresas deverão fazer uso de modelos específicos como modelo do Caixa Mínimo Operacional, Modelo Baumol e Modelo de Miller-Orr.

4.1 Modelo de Baumol

"William Baumol foi o primeiro a propor um modelo formal de administração de caixa incorporando custos de oportunidade e custos de transação. Seu modelo pode ser utilizado para estabelecer o saldo apropriado de caixa." (Ross et aI 1995,p. 555).

Segundo Assaf e Silva (l997,p 81),

" O modelo de Baumol recebe o nome do pesquisador que propôs utilizar o conceito de Lote Econômico de Compra.Este modelo é aplicado quando existem entradas periódicas de dinheiro no caixa e saídas constantes de recursos" .

O Modelo de Baumol deve ser aplicado somente em situações em que o fluxo de pagamento é relativamente constante e o recebimento é periódico. Sua aplicação torna-se mais restrita, já que o modelo ignora a demanda de caixa para precaução e especulação, supõe que a taxa de juros seja constante no período considerado e que o custo de transação seja linear.

Apesar destas restrições, é importante notar que o modelo traz para a discussão importantes princípios teóricos, essenciais ao estudo da administração de caixa, sendo, pois, um parâmetro bastante útil para a avaliação do saldo de caixa.

4.2 Modelo de Miller – Orr

Conforme Gitman (1997), quando uma empresa não consegue prever com certeza a sincronia dos seus t1uxos de caixa futuros, a empresa deverá optar por um modelo mais realista, embora mais complexo, como o modelo de Miller-Orr, que determina um saldo de caixa a ser mantido, considerando-se o limite máximo desse saldo, que quando alcançado deverá ser convertido 2/3 em títulos negociáveis e o limite mínimo, onde o valor do ponto de retomo deverá ser convertido de títulos negociáveis em caixa.

"Como se assume um fluxo de caixa aleatório, não existiria um momento pré­determinado em que seriam feitas as operações de aplicação e resgate, como ocorre no modelo de Baumol."(Assaf; Silva, 1997, p. 85).

Segundo Ross et aI (1995, p.557), "No modelo Miller e Orr, inclui-se tanto entradas quanto saídas de caixa. O modelo supõe que a distribuição dos fluxos líquidos diários (entradas menos saídas de caixa) é normal. A cada dia, o fluxo líquido de caixa poderia ser o valor esperado ou algum valor mais alto ou mais baixo."

4.3 Caixa mínimo operacional

Para Assaf e Silva (1997, pg 80), "Uma forma simples de estabelecer o montante de recursos que uma empresa deverá manter em caixa é através do Caixa Mínimo Operacional".

Para obter o Caixa Mínimo Operacional, basta dividir os desembolsos totais previstos por seu giro de caixa (u.), relembrando, o ciclo de caixa de uma empresa corresponde ao período compreendido entre o pagamento da compra de matéria-prima até o momento do recebimento das vendas.

Segundo Gitman (1997, p.305), para manter um saldo de caixa, necessariamente a empresa deixará de aproveitar diversas oportunidades.

Conforme Assaf e Silva (1997, p 81), "O Caixa Mínimo Operacional, por sua simplicidade de cálculo, oferecem alguns inconvenientes técnicos e por isso deve ser adotado com certos cuidados pela empresa, avaliando principalmente se as suas características estão adequadas à realidade de seus negócios".

4.4 Administração eficiente de caixa

O ciclo de caixa de uma empresa representa o período entre o desembolso para a aquisição de matérias-primas, até o recebimento efetuado pela venda do produto acabado, no que resulta em saldos que são influenciados significativamente pelas técnicas de produção e vendas, bem como pelos procedimentos adotados por uma política de créditos e cobranças e cumprimento do pagamento das duplicatas a pagar.

De acordo com Gitman (1997), as estratégias básicas que devem ser empregadas na administração de caixa são:



retardar o pagamento de duplicatas a pagar sempre que possível e pelo maior tempo que puder, desde que tal procedimento não venha prejudicar a posição creditícia da empresa, aproveitando, porém, quaisquer descontos financeiros favoráveis.



girar os estoques com a maior rapidez possível, sempre verificando o nível de estoque a ser mantido para evitar faltas de estoques que podem resultar interrupção na linha de produção ou perda de vendas.



receber o mais cedo possível as duplicatas a receber, sem que a cobrança antecipada venha afetar vendas futura em conseqüência da técnica de cobrança implantada. Os descontos financeiros, se economicamente justificáveis, podem ser usadas para realizar esse objetivo.


5. Formas de Financiamento

As necessidades de financiamento de uma empresa subdividem em necessidade permanente e necessidade sazonal, onde utiliza-se de estratégia agressiva e conservadora.

Para Gitman (2002), a estratégia agressiva de financiamento das necessidades operacionais, é a estratégia que faz uso de recursos de curto prazo para financiar suas necessidades sazonais e parte das necessidades permanentes, utilizando recursos de longo prazo para o financiamento da outra parte das necessidades permanentes; proporcionando assim, custos menores, uma vez que os recursos a curto prazo são mais baratos.

Já a estratégia conservadora, financia todas as suas necessidades (sazonais e permanentes), com recursos á longo prazo, utilizando recursos á curto prazo somente para financiar necessidades inesperadas. Essa estratégia apresenta um custo maior, uma vez que os recursos á longo prazo são mais onerosos e a empresa poderá estar pagando juros sobre recursos excedentes.

6. Conclusão

Este trabalho visou discorrer sobre técnicas específicas para a administração eficiente do caixa, o que resulta em menor custo de oportunidade e portanto maior lucratividade, uma vez que a manutenção desses recursos que são imprescindíveis ao suporte as atividades operacionais de uma empresa, custam pela sua falta de rentabilidade.

Através de uma gestão eficiente, visando manter o equilíbrio entre a liquidez e lucratividade, a empresa irá gerar benefícios para a continuidade e crescimento empresarial. Enfatiza-se a responsabilidade do administrador para que não haja a falta de investimento neste ativo, buscando uma média satisfatória para manter o equilíbrio financeiro da empresa.

Com a discussão apresentada podemos concluir que o propósito é indicar uma maneira de administrar o caixa de forma que este forneça subsídios necessários para a administração do negócio.

BIBLIOGRAFIA

GITMAN, Lawrence J. Principios de administração financeira. 7 ed. São Paulo: Harbra, 1997.

GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira. 9 ed. São Paulo: Harbra, 2002.

DI AGUSTINI, Carlos Alberto. Capital de giro. 1 ed. São Paulo: Atlas, 1996.

ROSS, Stephen A. et al. Principios de administração financeira. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2000.

ROSS, Stephen A. et al. Administração financeira. São Paulo: Atlas, 1995.

LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico: Procedimentos básicos, pesquisas bibliográficas, projeto e relatório, publicações e trabalho científico. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2001.

ASSAF NETO, Alexandre; SILVA, César Augusto Tibúrcio. Administração do capital de giro. 2 ed. São Paulo: Atlas, 1997.

SANVICENTE, Antônio Zoratto. Administração Financeira. 3 ed. São Paulo: Atlas, 1997.


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